Por Shayra Luiza
Perigo da História Única:
A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie cita em uma palestra TED em 2009 o conceito “perigo da história única”. O conceito central é que quando conhecemos apenas uma única narrativa sobre uma determinada pessoa, lugar ou cultura, corremos um grande risco de desenvolver uma compreensão incompleta e muitas vezes distorcida desta pessoa, lugar ou cultura.
A autora Chimamanda chama à atenção quando conta um pouco da realidade de sua infância no período de alfabetização, onde cita que suas referências históricas eram todas predominantemente eurocêntricas e que não refletiam sua realidade como nigeriana. Ela reconhece que, como uma escritora precoce, ela reproduziu esses mesmos estereótipos em sua própria escrita. “As coisas começaram a mudar quando eu descobri os livros africanos”. É com base no conhecimento literário identitário de suas origens que Chimamanda entende o seu lugar na história de um povo que por sua vez foi excluído dos livros por séculos.
Ressignificar uma história é passar a se ver através dela, isso requer inúmeros questionamentos para obter respostas de porquês presentes desde a existência de um povo. É importante destacar o quão necessário é termos mulheres negras e homens negros narrando suas próprias histórias e as ressignificando, tendo em vista toda uma conscientização identitária e trazendo valores reais e importantes para esse povo, cultura e região.
Escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, fonte: Howard County Library System
Qual o poder de uma história?
A pergunta trás dentro de seu conceito uma problemática inconsciente na hora de ouvir, ler ou assistir uma história. A história traz em sua estrutura ingredientes essenciais para entendimento e coesão, como por exemplo, conexão emocional, mudança de perspectiva, comunicação de valores e inspiração para ação, transmitindo profunda influência aos seus telespectadores. Diante de todo esse poder é correto afirmar que há vantagens e riscos por trás de qualquer história.
Quando questionamos o significado de história existe um vício ao imaginar que a história é um estudo sobre o passado da humanidade é como contar uma evolução tendo como base uma região, um povo e um período, porém essa visão acaba sendo limitada e é derrubada quando questionada por quem essa história está sendo contada, e elas sempre foram alteradas mediante o discurso daqueles que obtinham o poder necessário de controlar o que deveria ser dito, por isso é tão perigoso olhar as coisas pela perspectiva de uma única história.
E quais são essas vantagens e riscos?
As vantagens de estar consciente do risco da história única incluem uma maior abertura para outras perspectivas e a capacidade de reconhecer e questionar nossos próprios preconceitos e suposições. Isso pode levar a uma compreensão mais profunda e empática de outras pessoas e culturas, bem como uma maior sensibilidade em relação a questões sociais, políticas e culturais.
Por outro lado, o risco da história única também pode levar a uma compreensão errônea, estereotipada ou simplista de outras culturas e pessoas. Isso pode levar à perpetuação de preconceitos e discriminação, bem como à perda de oportunidades para a aprendizagem e a colaboração. É importante, portanto, estar atento ao risco da história única e buscar obter múltiplas perspectivas para obter uma compreensão mais completa e precisa do mundo.
Diante de todas análises feitas no decorrer do texto é possível concluir que a igualdade do poder da narrativa entre os povos que tiveram esse poder roubado por séculos é um processo complexo, mas essencial para promover a justiça social e a igualdade. Algumas maneiras de promover a igualdade do poder da narrativa incluem:
1. Ampliando vozes marginalizadas: É importante dar voz a pessoas de diferentes origens e experiências, especialmente aquelas que foram historicamente silenciadas ou ignoradas. Isso pode ser feito através da criação de espaços para que essas pessoas compartilhem suas histórias, opiniões e perspectivas. Por exemplo, organizar eventos que promovam a diversidade e a inclusão ou apoiar a produção de conteúdo por criadores de conteúdo de origens diversas.
2. Desafiando narrativas dominantes: A maioria das sociedades tem narrativas dominantes que muitas vezes ignoram ou minimizam as histórias e experiências das pessoas marginalizadas. É importante desafiar essas narrativas e promover uma visão mais completa e precisa da história e da sociedade. Isso pode ser feito através da criação de espaços de discussão, eventos e projetos que questionem e apresentem novas narrativas.
3. Fornecendo acesso à educação e informação: O acesso à educação e informação é essencial para promover a partilha do poder da narrativa. É importante que as pessoas tenham acesso a recursos educacionais que forneçam uma visão ampla e diversa da história e da sociedade, além de acesso à informação que permita que elas tomem decisões informadas e participem plenamente da sociedade.
Essas são algumas maneiras de promover a igualdade do poder da narrativa entre os povos que tiveram seu poder roubado. É importante lembrar que esse é um processo contínuo e que requer compromisso e ação de indivíduos e instituições.
O que é educação:
O conceito de educação de modo geral é o processo pelo qual as pessoas adquirem conhecimentos, habilidades, valores, atitudes e comportamentos que permitem desenvolver todo seu potencial como indivíduos e participar livremente da sociedade em que vivem. Entende-se que a educação é um processo contínuo que ocorre ao longo da vida e pode ocorrer em diversos ambientes, como escolas, universidades, empresas, organizações sociais, comunidades e famílias. É por meio da educação que as pessoas podem adquirir as habilidades necessárias para
ingressar no mercado de trabalho, exercer sua cidadania de forma plena, participar da vida cultural e social e buscar a realização pessoal.
Para além de um conceito geral, a educação é um processo crítico e transformador, que visa à emancipação dos indivíduos e à construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Segundo o educador brasileiro Paulo Freire, a educação é um processo de conscientização e transformação social. Ele argumenta que a educação não deve ser vista apenas como uma forma de transmitir informações e conhecimentos aos alunos, mas sim como um processo que envolve uma reflexão crítica sobre a realidade social e a busca por mudanças concretas. Para Freire, a educação deve permitir que as pessoas entendam a sua posição na sociedade e se tornem agentes ativos na transformação das condições sociais, injustas e desiguais. Ele propõe uma educação libertadora, que estimule a participação ativa dos alunos e os leve a uma consciência crítica de si mesmos e do mundo ao seu redor. Para Freire, a educação é um ato político, pois tem o poder de transformar a realidade e levar à emancipação dos indivíduos e da sociedade como um todo.
Freire entendeu que a educação deve ser contextualizada e relacionada com a realidade do aluno, levando em conta suas experiências e vivências. Ele propunha a educação popular, que valoriza o saber do povo e busca promover a emancipação dos mais pobres e marginalizados. Nesse sentido, a educação popular deve ser crítica, reflexiva e comprometida com a transformação social.
Sentidos da História da Educação:
A história da educação no Brasil foi marcada por problemas e desafios. Durante a era colonial, apenas algumas pessoas privilegiadas tinham acesso à educação. Com a chegada da família real portuguesa, foram criadas instituições de ensino, mas o acesso ainda era limitado. Foi somente com a Proclamação da República que a educação começou a ser considerada um direito. Houve avanços ao longo do século XX, mas a qualidade do ensino ainda era precária em muitas regiões do país, especialmente nas áreas mais pobres e rurais. Hoje, o país enfrenta novos desafios, como a falta de investimento e a polarização política. A
pandemia da COVID-19 agravou a situação, com escolas fechadas e poucos recursos para a educação a distância.
A história da educação pode ser interpretada e compreendida de várias maneiras, de acordo com as diferentes abordagens e perspectivas teóricas adotadas pelos estudiosos. Alguns dos principais sentidos atribuídos à história da educação são:
1. Sentido crítico: esta abordagem enfatiza a análise crítica das instituições educacionais, dos sistemas educacionais e das práticas pedagógicas ao longo da história, com objetivo de identificar as desigualdades e injustiças sociais que são reproduzidas e perpetuadas pela educação.
2. Sentido evolutivo: esta abordagem enfatiza a evolução histórica da educação, desde suas origens mais remotas até os dias atuais, destacando como principais mudanças e transformações ocorridas ao longo do tempo.
3. Sentido cultural: esta enfatiza a influência da cultura e da sociedade sobre a educação, destacando a importância dos valores, crenças e costumes das diferentes épocas na formação dos sistemas educacionais e costumes das diferentes épocas na formação dos sistemas educacionais e na definição das práticas pedagógicas.
4. Sentido Psicológico: esta abordagem enfatiza a importância das teorias e dos conceitos psicológicos na compreensão do processo educativo ao longo da história, destacando a contribuição de autores como Jean Piaget, Lev vygotsky e outros.
5. Sentido político: esta abordagem enfatiza a relação entre a educação e o poder político, destacando a importância da educação para a
formação de cidadãos conscientes e críticos, capazes de participar ativamente da vida política e social de suas comunidades.
Em resumo, a história da educação pode ser interpretada de diferentes maneiras, dependendo das perspectivas teóricas e abordagens adotadas pelos estudiosos. No entanto, todos eles têm em comum a busca por compreender a evolução histórica da educação e suas relações com a cultura, a sociedade, a política e a psicologia.
Referências:
VASCONCELOS, Maria Lúcia Marcondes Carvalho. Conceitos de educação em Paulo Freire. Editora Vozes Limitadas, 2015.
ADICHIE, Chimamanda Ngozi. O perigo de uma história única. Companhia das Letras, 2019.
VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano Mendes de. História da educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Revista Brasileira de História, v. 23, p. 37-70, 2003.
https://www2.ifmg.edu.br/governadorvaladares/noticias/adelia-a-poesia-e-a-vida-convite-para-o-3o-encontro-do-dialogos/o-perigo-de-uma-historia-unica-chimamanda-ng ozi-adichie-pdf.pdf
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