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Centro Palmares participa de Curso Formação Intervozes 2025 com debates sobre comunicação, tecnologia e ancestralidade em Salvador


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Foto: Leonardo Saraiva

Entre os dias 29 de maio e 1º de junho, Salvador sediou o Curso Formação Intervozes 2025, uma iniciativa do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, com apoio do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da UFBA (Póscom/UFBA) e da Vale do Dendê. O evento reuniu comunicadores, pesquisadores e ativistas para discutir temas como inteligência artificial, justiça socioambiental, ancestralidade e o direito à comunicação.


Abertura com debate sobre tecnologias e comunicação

Na sexta-feira (29/05), a aula aberta “No balanço da maré: tecnologias e comunicações em retomada” contou com as participações de Elionice Sacramento, Fabiana Moraes e Maryellen Crisóstomo, no Cineteatro do Museu Eugênio Teixeira Leal, no Pelourinho. A discussão abordou como as tecnologias podem ser ferramentas de resistência e transformação social, destacando a importância de uma comunicação que valorize narrativas marginalizadas. Fabiana destacou a construção de pautas jornalísticas, questionando a objetividade no jornalismo e propondo uma abordagem mais reflexiva e subjetiva.


Com critica a cobertura midiática tradicional, exemplificando com a revista Veja, que, em 30 anos, dedicou 78% de suas capas a pessoas brancas, reforçando vieses raciais e de gênero. Outro caso mencionado é a capa da revista Placar em 2014, que destacou o goleiro Bruno por ser "polêmico", defendendo em outros pontos que a objetividade no jornalismo é permeada por questões de raça, gênero e classe, propondo uma crítica qualificada a esse conceito, sem descartá-lo completamente. Fabiana também destaca a importância da reflexividade contínua, do questionamento dos valores-notícia e da criatividade no jornalismo, incluindo a ficção e o humor como ferramentas válidas para comunicar realidades complexas.


Elionice Sacramento, uma mulher quilombola e pescadora, compartilhou sua trajetória acadêmica e de luta por representação, destacando a comunicação como ferramenta de resistência. Ela critica a narrativa de vitimização imposta pelos meios de comunicação às comunidades tradicionais, enfatizando a necessidade de celebrar a potência cultural negra, como o samba e o maracatu.


Ao relatar sua experiência na Colômbia, onde jovens usam metodologias criativas para documentar violências em seus territórios, ela ressalta os desafios de comunicar em contextos de conflito. Também menciona o lançamento de um documentário sobre Joana Rosinha, pioneira na pesca artesanal, ilustrando a importância de visibilizar histórias apagadas. Por fim, ela reforça a urgência de comunicadores comprometidos com causas sociais, capazes de ler contextos de risco e articular estratégias de comunicação seguras e eficazes para comunidades vulnerabilizadas.

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Foto: Leonardo Saraiva

Oficinas e rodas de diálogo

No sábado (30/05), os participantes tiveram um dia inteiro de atividades tais como a oficina imersiva de ferraria, escultura e simbolismo, ministrada por Matheus Freitas, que explorou a relação entre arte, ancestralidade negra e cultura afro-brasileira no qual foi demonstrado o uso de adinkras em ferro, comumente utilizado em portões, terraços e demais estruturas no sentido de tanto demonstrar os simbolos, cada qual com seu significado ancestral, como a produção realizada no metal para a garantia da permanência dos símbolos para a posterioridade.

Em seguida os participantes foram divididos em dois grupos, sob o tema “Ancestralidade e outros futuros na comunicação” reuniu vozes como Naiara Santana (MMTR-SE), Nilson José (Conaq-PI) e Thiane Neves Barros (Mozilla Foundation), entre as experiência trazidas está o Territórios Livre, Tecnologias Livres, que realizou um mapeamento sobre internet em comunidades quilombolas e rurais pelo nordestes, discutindo como a comunicação pode fortalecer lutas territoriais e identitárias, além das dificuldades encontradas por essas comunidades tanto no acesso a internet de qualidade, como no combate a fakenews via Whatsapp e os hábitos de consumo, em especial de jovens e idosos, com um compartilhamento das trocas de informações entre os participantes presentes.


Representando o Centro Palmares, o secretário de comunicação Leonardo Saraiva destacou a importância de espaços como o construído pela formação do Intervozes:

Muito importante esses momentos, essa troca, essa diálogo, acredito na comunicação como um elemento base da garantia da qualidade de vida, qualquer reinvindicação de direitos passa, necessariamente pela comunicação.

Fotos: Leonardo Saraiva

À tarde, Nilson José dos Santos, líder comunitário do Quilombo Sumidouro (Piauí), apresentou um documentário sobre o quilombo e os impactos com a questão da energia renovável na região, criando toda uma série de acontecimentos e debates com a fornecedora de energia local e dialogando questões centrais ao quilombo como o direito a terra e a sua cultura.


Logo após, novamente o público foi dividido em dois grupos, o debate “Inteligência Artificial e tecnologias digitais: das brechas à soberania popular” trouxe reflexões sobre a relação existente da população com inteligência artificial, vigilância, privacidade e democratização da tecnologia, com participações como as de Andreza Rocha (Afroya Tech Hub), Glenda Dantas (Aláfia Lab) e Paulo Victor Melo (Intervozes).


Entre os elementos destacados no debate estiveram questões sobre as condições dos trabalhadores envolvidos com essas tecnologias, os efeitos negativos na substituição das relações interpessoais, com todas as suas nuances, pelas respostas automáticas, padronizadas e satisfatórias da IA, na qual observa-se uma quantidade de pessoas que "conversam" e desabafam com uma inteligência artificial, além da obstrução de processos criativos, em especial em texto, por soluções homogêneas para "agilizar" os trabalhos, o uso dos dados utilizados, além dos perigos ambientais no consumo de água pelos data centers.


A noite foi encerrada com o “Cultural do Curso”, apresentado pela artista Ayrá Sou Ares, celebrando a cultura negra, a ancestralidade e a resistência através da música.

Fotos: Leonardo Saraiva

Crise climática e direito à comunicação

No domingo (1º/06), o tema “Crise climática, justiça socioambiental e comunicação” guiou as discussões, com contribuições de Alfredo Portugal (Intervozes), Ray Baniwa (Rede Wayuri) e Mateus Britto (MAM-BA), entre outros, abordando desde narrativas midiáticas até tecnologias comunitárias, entre os presentes Mestre Jorge Rasta, fundador da Casa do Boneco no Quilombo D’Oiti e idealizador do Caruru de Ibeji e as Pedagogingas, fez uma impactante fala em prol da justiça socioambiental, os impactos das mudanças climáticas, a defesa dos saberes e da ancestralidade negra como forma de resistência e a importância da comunicação como ferramenta de transformação social neste processo, reforçando que nada substitui a comunicação presencial, reforçando a necessidade da retomada de uma comunicação que dialogue com os saberes tradicionais.


O evento terminou com a gira aberta “Não nos afastemos, vamos de mãos dadas”, conduzida por Iara Moura e Tâmara Terso (Intervozes), concluindo as ações com uma dinâmica de grupos sendo formados para uma construção coletiva de debates centrais na comunicação e na retomada da importância da construção de redes solidárias na luta por uma comunicação democrática, mais comunicativa, inclusiva e acessível, destacando as ações que já sendo executadas por toda a variedade de coletivos, grupos e associações ali presentes.

Fotos: Leonardo Saraiva

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