I Seminário Afropédia acontece em Salvador e debateu combate ao racismo e fortalecimento da representatividade negra na internet
- Centro Palmares
- 20 de fev.
- 6 min de leitura

Nos dias 14 e 15 de fevereiro, no Arquivo Público do Estado da Bahia (APEB), em Salvador, aconteceu o I Seminário Afropédia, com realização do Centro Palmares, o evento promoveu discussões sobre o combate ao racismo na internet e o fortalecimento da representatividade negra nas plataformas digitais.
Com a presença de pesquisadores, ativistas do movimento negro, representantes do governo e da sociedade civil, o seminário destacou o papel da democratização da informação e da ocupação dos espaços digitais como estratégias essenciais para o enfrentamento ao epistemicídio racial.
A iniciativa integra o projeto Afropédia: Conexões Ancestrais – Ameaças e potencialidades na Internet para a Democracia, Direitos Humanos e o Enfrentamento ao Racismo, criado pelo Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos, o seminário contou com o apoio financeiro da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), Fundação Pedro Calmon, unidade vinculada a Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (FPC, Secult-BA), Fundação Euclides da Cunha, Universidade Federal Fluminense (UFF) e Ministério da Igualdade Racial (MIR), além do apoio da Calilu, Forúm de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro, Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros (HN), Organização Mulheres de Fases, Rede Integrada dos Bens Imateriais Registrados (RIBIR) e Wiki Movimento Brasil (WMB). comprometidas com a valorização da cultura afro-brasileira.
Entre os principais objetivos do seminário estavam o fortalecimento da presença negra nas plataformas digitais, a criação de estratégias para garantir a inclusão de conteúdos sobre a cultura afro-brasileira e o combate à disseminação de informações enviesadas e excludentes nas redes.
Combate à invisibilização da história negra na internet
Um dos pontos centrais discutidos no evento foi a sub-representação da cultura e da história negra na internet, em especial na Wikipédia Lusófona, uma das maiores enciclopédias online do mundo. Dados apresentados pelo coordenador do Afropédia, Danilo Moura, revelam que há um "vazio político" de representatividade no ambiente digital.
“Hoje, de cada 100 biografias disponíveis na Wikipédia, 98 são de pessoas brancas. Há um apagamento sistemático das personalidades negras, da nossa cultura, da nossa identidade e dos nossos espaços históricos”, afirmou Moura. “O Afropédia surge para enfrentar esse problema e garantir que a produção do conhecimento sobre a população negra seja feita por quem vive essa realidade.”
Para preencher essa lacuna, o Afropédia prevê a realização de editatonas – maratonas de edição na Wikipédia – em que pesquisadores, ativistas e integrantes do movimento negro poderão criar e também atualizar artigos sobre figuras históricas, eventos, espaços e manifestações culturais afro-brasileiras. A ideia é capacitar jovens negros em produção editorial digital e ampliar a presença de narrativas afrocentradas nas plataformas de conhecimento livre.
A programação teve início na sexta-feira (14), às 18h, com a recepção dos convidados. Em seguida, ocorreu a mesa de abertura "Ameaças e potencialidades na Internet para a Democracia, Direitos Humanos e o Enfrentamento ao Racismo", com a participação de: Danilo Moura (Centro Palmares), Diana Santos Souza (Rede HN), Driele Santos (Secretaria de Justiça e Direitos Humanos - SJDH), Fabiana Dias (Mulheres Negras no Brasil - WMB), Hamilton Assis (Comissão de Reparação da Câmara Municipal de Salvador - CMS), Jorge da Cruz Vieira (Associação de Procuradores do Estado da Bahia - APEB), Luiz Felipe Jesus de Barros (Movimento de Inclusão Racial - MIR) e Sara Prado (Fundação Cultural do Estado da Bahia - FUNCEB)
Os participantes abordaram os riscos e oportunidades da internet para a garantia dos direitos humanos e a luta antirracista. Após o debate, o público foi recebido com um coquetel e uma apresentação cultural do Afoxé Bamboxê, que celebrou a ancestralidade e resistência da cultura afro-brasileira.
No sábado (15), as atividades começaram às 9h30 com a mesa "O que é Afropédia e plataformas Wiki", apresentada por Luan Pessoa (wikimedista em residência), Magdalena Almeida (Centro Palmares) e Mário Nunes (Centro Palmares)
Após um lanche coletivo ("Ajeum"), o debate "Plataformas colaborativas e o Epistemicídio digital" trouxe reflexões sobre a exclusão de saberes negros nas plataformas digitais, com falas de Danilo Moura (Centro Palmares), Diana Santos Souza (Mulheres Negras no Brasil - WMB), Rosildo do Rosário (Rede de Bibliotecas e Informação para a Igualdade Racial - RIBIR), Rita Santos (Associação Brasileira de Amigos do Movimento Negro - ABAM) e Tatiana Dias Silva (Movimento de Inclusão Racial - MIR)
À tarde, os participantes se dividiram em Grupos de Trabalho (GTs) para aprofundar discussões sobre três eixos centrais:
GT1: Como ajudar a garantir a democracia em um mundo digital?
Diana Santos Souza (WMB)
Mário Nunes (Centro Palmares)
GT2: Quais ferramentas institucionais podem garantir Direitos Humanos nas plataformas de conhecimento livre?
Fabiana Dias (WMB)
Magdalena Almeida (Centro Palmares)
GT3: Como tornar as plataformas abertas um espaço para enfrentamento ao racismo no mundo digital?
Luiz Felipe Jesus de Barros (MIR)
Rita Santos (ABAM)
Os resultados das discussões foram apresentados às 14h50 por Magdalena Almeida, consolidando assim reflexões e propostas para ações futuras. O seminário foi encerrado às 15h30 com a mesa "Pactos para a superação da invisibilidade negra na produção de conhecimento colaborativo", que contou com a presença de Dandara Matos (Rede HN), Danilo Moura (Centro Palmares), Fabiana Dias (WMB), Jorge da Cruz Vieira (APEB), Rosana Moore (FUNCEB) e Tatiana Dias Silva (MIR)
Os grupos apresentaram seus resultados e propostas ao final do evento para a superação da invisibilidade negra na produção do conhecimento colaborativo.
Próximas ações
O projeto Afropédia não se encerra com o seminário. A iniciativa seguirá promovendo formações, oficinas e editatonas para ampliar a produção de conteúdos sobre a cultura negra nas plataformas digitais.
Além da parceria com a Rede Historiadoras e Historiadores Negros (HN) e a Wiki Movimento Brasil (WMB), o projeto está em articulação com universidades, coletivos culturais e órgãos governamentais para criar um fórum permanente de diálogos sobre comunicação digital e enfrentamento ao racismo estrutural.
“Este é só o começo. A Afropédia tem o potencial de transformar a maneira como a história negra é contada e acessada. Nossa missão é garantir que as próximas gerações tenham referências negras na internet e que nossa cultura seja reconhecida e valorizada globalmente”, concluiu Danilo Moura.
Com a proposta de dar visibilidade, reconhecimento e protagonismo às populações negras no ambiente digital, o Afropédia se consolida como um projeto pioneiro na luta contra o racismo estrutural e na promoção da democratização do conhecimento.
Mais informações disponíveis na página do projeto na Wikipédia, disponível aqui e nas redes sociais do projeto, disponível aqui.
Sobre a Afropédia:

O projeto Afropédia: Conexões Ancestrais Ameaças e potencialidades na Internet para a Democracia, Direitos Humanos e o Enfrentamento ao Racismo, é uma iniciativa do Centro Palmares de estudos e acessória por direitos em parceria com a Fundação Euclides da Cunha e o Ministério da Igualdade Racial e a fundação de cultura do estado da Bahia, que estabelece um fórum permanente de diálogos analíticos da relação da comunicação nas mídias digitais e o racismo estrutural.
Estatisticamente, a maioria dos textos escritos nas mídias digitais que relacionam a cultura dos povos negros e seus respectivos modos de vida é de autoria de homens brancos, de classe média-alta e com nível de escolaridade superior. Essa situação traz estranhamento por vários motivos, os quais norteiam a primeira pergunta: por que as referências de vida e de cultura dos povos negros são escritas por pessoas brancas? O que limita o nosso povo preto a escrever verbetes, por exemplo, que retratam suas vivências sociais, culturais, ambientais e econômicas? Por que os esforços de disseminação do letramento digital não está em nosso alcance? ou mesmo, o coo fazer o esclarecimento de o quão é importante ocupar o espaço digital para enfrentamento ao racismo estrutural?
Entendendo-se que a escrita é uma ferramenta de poder, o Projeto Afropédia colabora para o enfrentamento ao racismo através da facilitação do letramento digital, do diálogo institucional entre diferentes representatividades do Movimento Negro Brasileiro para fortalecer a ocupação dos espaços das mídias digitais e oportunizar aos fazedores de cultura a condição de escreverem na Wikipédia sobre suas referências e inspirações.
A Afropédia nasceu da vontade de inspirar e gerar informações sobre as referências das figuras históricas, movimentos culturais, linguagens artísticas, religiosidade, tradições e muito mais, relacionados à negritude e ao povo africano. A contextualização temática envolve os conhecimentos ancestrais, as contemporaneidades e os olhares futuros que fortalecem as lutas e criam o ambiente para as novas conquistas dos povos negros.
Assim, a Afropédia tem por objetivo fortalecer a articulação institucional entre as entidades da sociedade civil que trabalham no enfrentamento ao racismo, na defesa da democracia e na instrumentalização da das mídias digitais como ferramenta de promoção mundial da cultura negra. Como forma de potencializar essas tarefas, serão realizados Seminários e Editatonas que instrumentalizaram o acesso, a escrita e a retroalimentação da criação de verbetes na Wikipédia.
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