Julho das Pretas: o empreendedorismo e juventude que transforma identidade em autonomia - Shayra Luiza

Em um país marcado por profundas desigualdades raciais, o empreendedorismo negro tem se mostrado uma importante ferramenta de resistência, geração de renda e afirmação identitária. Jovens de todo o Brasil têm criado soluções criativas para enfrentar as barreiras estruturais que dificultam o acesso da população negra ao mercado formal de trabalho, ao crédito e às oportunidades educacionais. No período do Julho das Pretas, no qual destaca-se o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, é nesse contexto que histórias como a de Shayra Luiza Souza da Conceição, de Ilhéus (BA), necessitam de um destaque.

Coordenadora da Juventude do Centro Palmares, Shayra é também estudante de Ciências Sociais na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e, paralelamente, atua como empreendedora. Sua iniciativa nasceu do desejo de promover representatividade, fortalecer a autoestima da juventude negra e, ao mesmo tempo, criar uma alternativa de renda. Com criatividade e compromisso social, Shayra desenvolveu uma linha de camisetas com estampas que celebram a cultura negra, frases de empoderamento e referências ao feminismo negro e à luta antirracista.

“Era importante pra mim que a arte estivesse a serviço de algo maior. Mais do que vender roupas, eu queria provocar reflexão e orgulho. Cada estampa carrega uma mensagem”, explica Shayra.

Além de empreender, ela segue firme em sua formação universitária, participando de projetos de extensão e atividades acadêmicas voltadas ao enfrentamento do racismo estrutural e da desigualdade social. A conciliação entre estudo e trabalho autônomo é, para ela, não apenas uma necessidade, mas também um ato de resistência:

“Ser jovem, negra, LGBT e universitária já é quebrar barreiras todos os dias. Empreender me dá autonomia para continuar nesse caminho”.

O exemplo de Shayra reflete uma tendência crescente no Brasil. Segundo a pesquisa “Empreendedorismo Negro no Brasil” (Instituto Feira Preta, 2021), mais de 50% dos empreendedores negros começaram seus negócios por necessidade, mas muitos deles buscam também transformar suas vivências em ações coletivas, educativas e culturais.

Para especialistas, investir e apoiar o empreendedorismo negro é fundamental para reduzir desigualdades históricas e fomentar uma economia mais justa. Ainda assim, os desafios persistem: a falta de acesso ao crédito, o racismo institucional e a informalidade são entraves recorrentes enfrentados por esses empreendedores.

Apesar disso, jovens como Shayra seguem construindo novos caminhos, com coragem, identidade e consciência social. Suas camisetas circulam em feiras, eventos e redes sociais, como forma de comunicar não apenas estilo, mas também história, luta e futuro.

Shayra Luiza

Ativista feminista negra e estudante

Shayra Luiza Souza da Conceição nasceu em 23 de julho de 2001, em Juiz de Fora, Minas Gerais, e foi criada em Ilhéus, Bahia, onde cursou o ensino fundamental, médio e atualmente é graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Atua em movimentos antirracistas e nas pautas de direitos das mulheres negras e da população LGBTQIAPN+. Desde a adolescência, constrói sua trajetória como ativista e defensora dos direitos humanos, iniciando sua militância aos 14 anos por meio do movimento Hip Hop, utilizando sua voz como ferramenta de reivindicação e denúncia da violência contra juventudes periféricas.

É Coordenadora de Juventude do Centro Palmares de Estudos e Assessoria por Direitos desde 2022. Ao longo dos últimos anos, tem participado de formações, debates e ações educativas voltadas para o enfrentamento ao racismo estrutural e à promoção da equidade.

Atuação e Participações Recentes

Atua no programa de extensão Pet Saúde e Equidade da UESC. Em 2024, participou do encontro formativo "O controle social e o desafio da Equidade no mundo do trabalho", e da atividade virtual "Povo preto, pele alvo e a Segurança Pública da Bahia: a polícia mais letal do Brasil", promovida pelo Núcleo do MNU/UESC com apoio da ADUSC e AFUSC.

Ainda em 2024, participou do minicurso “Enfrentamento ao Racismo Estrutural” e do curso especial do Julho das Pretas, onde apresentou biografias e análises de textos de autoras como Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, Conceição Evaristo, bell hooks, Angela Davis e Sojourner Truth.

Dados Pessoais

• Nome completo: Shayra Luiza Souza da Conceição

• Data de nascimento: 23/07/2001

• Local de nascimento: Juiz de Fora (MG)

• Reside em: Salobrinho, Ilhéus (BA)

• Formação: Ciências Sociais – Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)